Eduardo Brunno da Silva Calaça

RESUMO

A principal abordagem deste estudo se sustenta nos impactos causados pela formação midiática da mulher brasileira como objeto de desejo sexual, influenciado por estereótipos criados ao longo de nossa formação histórica e que são fortalecidos pelo processo de midiação, culminando com a inserção do Brasil na rota Internacional do Turismo Sexual.

PALAVRAS CHAVES: Mídia, Turismo Sexual, Desenvolvimento Social

1 – INTRODUÇÃO

O Presente estudo objetiva-se em demonstrar a influência da mídia e a sua importância para a sociedade, que atualmente tem suas relações concentradas na formatação de imagens, estereótipos1 e símbolos, que passam a influenciar e até mudar estruturas das instituições sociais.

Através de um levantamento documental, procura-se fundamentar a importância social das Relações Públicas, em especial, fortalecendo-a como ciência que precisa ser renovada e estimulada a buscar novas linhas atuação e pesquisa para entender o complexo sistema social o qual estamos inseridos, influenciado por formações midiáticas que criam padrões, sistematizam tendências e fomentam o consumismo exagerado, através de imagens, ressaltando que, a mídia não é a principal responsável pela existência do Turismo Sexual, mas que ela compõe uma série de fatores que englobam, as desigualdades sociais, discriminações, falta de representações sociais capaz de cobrar atitudes dos governos que se apresentam inoperantes ou desinformados, em relação a essa problemática.

No Brasil o Turismo Sexual é muito confundindo com a liberdade sexual, que está tão entranhada em nossa cultura. Torna-se de extrema importância desenvolver pesquisas na área de comunicação que possam contribuir com uma nova abordagem sobre o turismo sexual, que já se desenvolve sob a ótica da sociologia, filosofia, antropologia, formando assim uma rede multidisciplinar de estudos que busquem a garantia dos direitos fundamentais e principalmente o desenvolvimento sócio-econômico harmonioso.

Essa abordagem comunicacional, torna-se fundamental, uma vez que vivemos a re-evolução da imagem, carregada de simbolismos e tendências, que influenciam a escolha de produtos e serviços, chegando inclusive a intervir na cultura de localidades. Sendo dever do comunicador, em especial do Relações Públicas, prezar pelo respeito a dignidade humana, contribuir para o desenvolvimento social, ser ético e se conduzir sempre pela verdade e justiça para com seus públicos.

2 – Relações públicas na Sociedade

O processo de profissionalização da Atividade de Relações Públicas diante da atual conjuntura social, legítima a profissão, visto que para entender a complexidade do processo de formação da sociedade, deve-se analisar aspectos que envolvem áreas de várias ciências como: a sociologia, filosofia, antropologia, comunicação social, entre outras.

Nesse contexto o profissional de Relações Públicas se apresenta na intenção de observar, analisar, esquematizar e estabelecer ações que possam minimizar controvérsias e estimular tendências que viabilize o entendimento entre as partes como forma de contribuição para o desenvolvimento social. Conforme afirma GOLÇALVES (1974:54)

[…] sua função é essencialmente sociológica. Consiste em favorecer o legítimo debate, vencer arraigados preconceitos tradicionalistas, informar e formar. A formação de consciência é prévia, em qualquer regime democrático.

Segundo a Pesquisa sobre Tráfico de Mulheres, Crianças e Adolescentes para fins de Exploração Sexual Comercial – PESTRAF (2002:53), existe um novo padrão de consumo:

[…] fortalecer as relações de discriminação de classes, de estilos urbanos e de comportamentos sócio-culturais capazes de despolitizar as diferenças resignificando as respostas sociais criando continuamente novas necessidades de consumo através da influência da publicidade e do marketing na opinião pública.

Essas novas relações de consumo levantam uma série de aspectos que justificam inferências do profissional de Relações Públicas, uma vez que o mesmo deve basear seu trabalho nos princípios da declaração Universal dos Direitos do Homem, que permeiam os valores e dignidade fundamental do indivíduo, mantendo de fato o livre exercício dos direitos humanos, comprometendo-se em conduzir-se através da verdade, da precisão, da justiça e da responsabilidade para com a opinião pública.

Na pratica se estabelece uma divergência entre realidade e os princípios legais, gerando assim controvérsias, objeto de estudo do profissional de Relações Públicas. Com isso as Relações Públicas passa a desenvolver atividades de conscientização pública onde procura mostrar a importância de cada indivíduo, transformando-o em um importante agente no processo de construção social.

Para SIMÕES (1996:43) a atividade de Relações Públicas deve ter uma função social de forma que a mesma seja reconhecida e legitimada pela sociedade, utilizando técnicas de Relações Públicas que possam contribuir com uma sociedade mais harmoniosa e justa.

A nova dinâmica global proporciona o surgimento de um novo padrão de sociedade que tem como referencial a imagem, que é definida de acordo com VAZ (1995:53) como “um conjunto de idéias que uma pessoa tem ou assimila a respeito de um objeto e que forma na sua consciência um entendimento particular sobre tal objeto, seja ele um fato, uma pessoa ou instituição.”

Esse conjunto de idéias é fruto de uma seqüência de referências e experiências que permite ao indivíduo, ter um posicionamento de apoio ou repulsa em relação a determinado produto ou serviço.

Ao se trabalhar localidades turísticas deve haver a preocupação com a formação de uma imagem positiva do produto turístico, uma vez que esse produto é subjetivo e mexe com o nosso imaginário. A concepção de um turista sobre uma determinada localidade irá variar de acordo com as informações que ele recebe de seus amigos, de livros, buscas na internet, folhetos, filmes, entre outros.

No turismo sexual, a propaganda tem uma abordagem exótica e erótica, conforme afirma a antropóloga LEHMANN-CARPZOV (1994:77) em sua dissertação de mestrado:

[…] a propaganda turística, particularmente quando se trata de turismo sexual, explora sobretudo o exótico das regiões longínquas e o erótico da beleza do corpo das mulheres. O sexo é usado nessa propaganda como poder de manipulação sobre as ações do imaginário dos indivíduos.

3 – IMAGEM DO BRASIL

A Análise da imagem do Brasil surge a partir de um estudo histórico e compreensão de relatos, produções culturais e imprensa no âmbito do turismo. Essa avaliação demonstra em uma seqüência cronológica de fatos e relatos, sobre a realidade representativa da imagem turística estabelecida sobre o Brasil.

O processo de formação da imagem do Brasil, teve inicio a partir do seu descobrimento, com o primeiro relato oficial sobre a descoberta da Ilha de Vera Cruz2, segue trechos da carta de Pero Vaz de Caminha enviada para o Rei D. Manuel no dia 1 de maio de 1500, relatando sua primeira impressão sobre a terra descoberta e seus habitantes:

A feição deles é serem pardos, um tanto avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos. Andam nus, sem cobertura alguma. Nem fazem mais caso de encobrir ou deixa de encobrir suas vergonhas do que de mostrar a cara. Acerca disso são de grande inocência.

O exotismo é ressaltado em quase toda a carta, e a descrição dos índios brasileiros não se prendiam somente na exuberância das cores, e cabelos. Mas também na liberdade e sensualidade que o povo que ali habitava demonstrava sem nenhum tipo de restrição. Como segue abaixo:

[…] Ali andavam entre eles três ou quatro moças, bem novinhas e gentis, com cabelos muito pretos e compridos pelas costas; e suas vergonhas, tão altas e tão cerradinhas e tão limpas das cabeleiras que, de as nós muito bem olharmos, não se envergonhavam.[…]

[…] e sua vergonha tão graciosa que a muitas mulheres de nossa terra, vendo-lhe tais feições envergonhara, por não terem as suas como ela. […]

[…] Outra trazia ambos os joelhos com as curvas assim tintas, e também os colos dos pés; e suas vergonhas tão nuas, e com tanta inocência assim descobertas, que não havia nisso desvergonha nenhuma. […]

Verificamos na primeira obra literária sobre o Brasil, a exaltação do exótico, do natural, do selvagem e do sensual, relatando a visão que os descobridores tiveram ao desembarcar na Ilha de Vera Cruz. Somam-se desenhos, gravuras e pinturas de artistas, que atualmente ilustram nossos livros de história e galerias de arte, os quais sempre exploraram a imagem da mulher nua, disponível e exótica.

MANTHORME (1996 apud BIGNANI 2002:90-93) diz em seus estudos que a produção cultural no século XIX, contribuiu para a construção da imagem do Brasil, em especial a iconografia de Martin Johnson HEADE, que texto e imagens buscavam demonstrar o acasalamento, a reprodução o nascimento, o crescimento de beija-flores.

[…] Nos trabalhos de 1860 os pássaros aparecem duros, congelados em primeiro plano, o qual é isolado hermeticamente da floresta do fundo. Nos quadros mais tardios, em contraste, os pássaros aparecem no centro da mata perto de orquídeas voluptosas: o estático é substituído por um modelo dinâmico do mundo natural. Isso reforça a noção cada vez mais aceita do Brasil como uma terra de riqueza, fecundidade e de liberdade sexual. […]

Tal representação, faz parte do ciclo de vida de qualquer ser vivo, porém relação com o exótico e o sensual, passou a se fortalecer no início do Século XX onde através de ações políticas o Brasil passa a reinterpretar sua história vinculando sua imagem à musicalidade e à sensualidade, criando clichês e estereótipos que nas décadas atuais passam a afazer parte da identidade nacional e do pacote de produtos de exportação do Brasil.

No dia 14 de abril de 1936, Lourival Fontes, Jornalista, Diretor do Departamento Nacional de Propaganda definiu essa a nova política declarando (1980:70 apud BIGNANI 2002:95):

Vulgarizamos não só as ações do Governo, com também procuramos esclarecer a opinião pública sobre certos problemas do momento, transmitindo-lhes noções sobre o regime que a nossa carta política adaptou e sob cuja égide vive 45 milhões de brasileiros. […] E assim, pelo rádio, pela imprensa, e pelo cinema, estamos realizando uma obra duradoura, patriótica e sincera – cuja finalidade superior consiste justamente no ideal que todos devemos cultuar e tornar o Brasil conhecido no mundo inteiro.

Essa declaração deu a largada para a introdução dos meios de comunicação de massa no Brasil e o surgimento de personalidades como Carmem Miranda, que interpretava e encenava vestida de baiana com um enorme arranjo de frutas na cabeça. Vinculando, ainda mais, a imagem do país a um local exótico, sensual, musical, e do carnaval.

Em dezembro de 1939, foi criado pelo Governo Vargas o, Departamento de Imprensa e Propaganda, conhecido como DIP, que tinha a função de enaltecer a figura do presidente, apresentando uma estrutura administrativa centralizadora que permitia ao governo exercer o controle dos meios de comunicação de massa.

Um outro marco interessante já década de 40 é a série de filmes produzidos por Walt Disney: Alô amigos! (1941) e Você já foi à Bahia? Nesses filmes, é comum imagens silvestres, e o surgimento do personagem folgado, golpista, chamado de Zé Carioca.

Na década de 50 é estabelecido um modelo de desenvolvimento acelerado onde os problemas sociais se agravavam assim como a intensificação das relações com a imprensa internacional, sendo comum pronunciamento do Presidente Juscelino Kubitschek, para atrair investimento estrangeiro ao país.

BIGNANI (2002:101) afirma que na década de 60, filmes estrangeiros passavam a utilizar cenários brasileiros para suas produções, que tinham na maioria das vezes em seu enredo fugas para o Brasil e o surgimento de “heroínas do sexo” como consta no filme Emanuelle 4, (França, Francis Leroy e Íris Latans, 1983) que relata a aventura de uma personagem que tem sua iniciação sexual no Brasil com homens de todas as raças e ardentes aventuras amorosas.

A década de 50 foi marcada também pelo inicio da Bossa Nova, alguns estudiosos acreditam que o marco inicial foi o lançamento, em 1958, dos discos Canção do Amor Demais, com Elizeth Cardoso interpretando composições de Tom e Vinicius, e Chega de Saudade. Em 1962 o lançamento da música Garota de Ipanema, de autoria de Antonio Carlos Jobim e Vinícius de Moraes, passou a divulgar o Brasil em todo o mundo, junto a imagens da praia de Copacabana e suas morenas, criando um estereótipo das mulheres brasileiras como mulheres sexualmente atraentes.

De fato desde o descobrimento ficou associada à imagem do Brasil ao elemento exótico que culturalmente tornou-se natural.

Essa naturalidade fica explicita nos discursos e ações de instituições brasileiras no exterior. O fato do Brasil não formular ao longo de seu desenvolvimento histórico discursos coesos e politicamente corretos que poderiam ser estabelecidos através da exploração consciente de suas potencialidades naturais e aspectos culturais, fez a imprensa internacional estabelecer um discurso dominante, assim como no período colonial, tornando o Brasil um país alvo, pelo seu exotismo e sensualidade, que chama a atenção e garante a venda de publicações.

As excessivas inserções na mídia internacional sobre a sensualidade do povo brasileiro promoveu o aumento do fluxo de estrangeiros no país em busca de sexo, trazendo conseqüências negativas no processo de formação social, pois passam a fomentar a Prostituição, o Tráfico Internacional de Mulheres para fins Comerciais, a Exclusão social, o Abuso sexual, a Pedofilia, o Atentado Violento ao Pudor, entre outros. Esses fenômenos tornam-se notícias e se transformam em ciclos problemáticos que passam a afetar a identidade nacional.

SILVA (1998) em sua Tese de Doutorado, “Em busca de um clichê: Panorama e Paisagem do Brasil no cinema estrangeiro”, afirma que:

[…] existe uma tendência a mostrar o país como sendo um lugar onde não se pode beber água , por que é mortal e que a noite de Reveillon os cariocas drogados, se refociliam exorcisticamente na areia, e se entregam em público a todo tipo de dessipação com mulheres prestes a se entregar sexualmente a qualquer um.

Algumas publicações estrangeiras reforçam as afirmativas anteriores como a descrição feita pelo jornalista Italiano Giovanni Bufa em seu artigo, “Rio as Metas excitantes de inverno3, publicado no inverno europeu sugerindo a fuga dos europeus para o Brasil em busca de realizar suas fantasias. Segue trecho do artigo BIGNANI (2002:113):

Para os jovens é fácil encontrar companhia, as mulheres brasileiras não se fazem de difícil, obviamente quando elas tem vontade. Porém vale a pena lembrar que o Rio é a cidade onde se encontra a maior quantidade de prostitutas e de homossexuais de todo o continente americano. […] nos bares noturnos da cidade encontram-se jovens graciosas brasileiras dispostas a dançar com vocês, e, se vocês, forem generosos, elas estarão dispostas inclusive a fazer companhia durante toda a viagem.”

BIGNANI (2002:114) afirma ainda que a principal publicação que relaciona a imagem do Brasil ao Turismo Sexual é um artigo escrito pelo jornalista Sandro Malossini 4 que descreve os principais pontos turísticos da Bahia ao Rio de Janeiro, e no final, há um glossário para entender melhor o Rio de Janeiro, onde ele explica de A à Z termos como: “Gatinhas – garotas gentis com biquínis de tirar o fôlego; Mulatas – mulheres conquistáveis por pouco dinheiro”.

Outros jornalistas e Revistas também publicaram artigos e reportagens voltadas para o público interessado, com informações sobre motéis, valores de programas com prostitutas e frases motivadoras para a prática do Turismo Sexual, como:

[…] se vocês algum dia sonharam em ser o sultão de um harém repleto de esplendiosas odaliscas, o Rio é o lugar Ideal. “ (Meridiani, Brasile, Milão, Ed Domus, Jan 1990)

O que é o Brasil? São as praias, as florestas, as favelas (…) ou as formas arredondadas posteriores das garotas de Ipanema, Copacabana ou Itaparica?”

( TUTTO TURISMO, Seção. O Leitor Conta. Milão,Ed Domus, Junho 1989.)

Na internet, vários sites exaltam a beleza, o exotismo e a sensualidade da mulher brasileira, denegrindo a imagem da mulher e promovendo o Turismo Sexual. O site italiano Clarence, especializado em turismo, vende para o turista a cidade do Rio de Janeiro, e entre os atrativos ele menciona o Top Less, como sendo “[…] mais um motivo enriquecedor e atraente para visitar Copacabana e Ipanema”5. Além de publicações da imprensa Internacional destacamos as ações do Órgão oficial do Turismo Brasileiro a EMBRATUR 6 que passou a inserir, nas décadas de 70 e 80, material institucional brasileiro com fotografias de bumbuns feminino, Top Less e garotas com biquínis minúsculos.

Para a pesquisadora ALFONSO (2006) da Universidade de Campinas, a divulgação de imagens de mulheres de biquínis nas praias brasileiras, “passam a levar uma imagem negativa e equivocada, contribuindo para o aumento do Turismo Sexual”, posição essa defendida em sua dissertação de mestrado “Embratur: Formadora de imagens da nação brasileira”, apresentado ao Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. A pesquisadora afirma que:

[…] EMBRATUR, tem um papel fundamental na formação e divulgação da imagem do Brasil, uma vez que a imagem é o principal instrumento para a venda de um produto turístico, e quando mal trabalhada pode ocasionar problemas, sociais, culturais e ambientais.

Essa má exploração de atrativos turísticos que são trabalhados pelos órgãos oficiais de forma isolada e amadora, pode ocasionar o desgaste do meio ambiente, a capitalização da localidade, o esquecimento da cultura local e a deformação de estruturas sociais.

As representações culturais, os atrativos naturais, as formações antropológicas, são apenas alguns fatores que podem promover o turismo e gerar consequentemente desenvolvimento sócio – econômico em uma localidade, é ressaltado, no entanto, que em relação à imagem do Brasil, a imprensa estrangeira passa a refletir com mais ênfase os problemas sociais, a violência, a exclusão social e a prostituição, que são problemas reais, porém universais, que ao serem trabalhados pela mídia criam uma imagem negativa e repulsiva para o turista, uma vez que envolve o turista e o transforma em um agente participante de um processo onde ele pode ser violentado, roubado, enganado, ou exposto a situações desconfortáveis, como se no país não houvesse um poder legítimo constituído.

De fato a criação e a abordagem distorcida da imagem do Brasil como um lugar de sexo fácil, sensual e exótico se sustenta nos pilares de nossa formação social que durante uma trajetória de 500 anos, foi trabalhada de forma submissa imposta pelos novos colonizadores, que hoje utilizam formas mais sofisticadas de exploração.

Segundo BIGNAMI (2002:129), a mudança nesta concepção depende da revisão da valorização da cultura nacional em todas as instâncias junto com o desenvolvimento de políticas dirigidas ao turismo que priorizem a minimização de problemas sociais e a criação de uma infra-estrutura turística.

4 – O fenômeno: Turismo

Para definir o que é turismo, devemos buscar fundamentos em diversas bases, como: econômica, técnicas, estrutural e etc.. Porém, para tentar atingir a totalidade deste fenômeno, torna-se necessário a busca de teorias que possam comprovar essa complexidade.

Entre os diversos estudiosos, Destaca-se a visão defendida por JAFAR JAFARI, apud BENI 1997:36, que afirma a necessidade de incorporar no estudo do turismo teorias e conceitos de campos afins como, antropologia, sociologia economia, geografia, ciências políticas, ecologia, estudos urbanísticos, marketing, direito, administração e psicologia. Que se sustenta na definição Holística de turismo:

É o estudo do homem longe de seu local de residência, da indústria que satisfaça suas necessidades, e dos impactos que ambos, ele e a indústria giram sobre ambientes físicos, econômico e sociocultural da área receptora.

BENI (1997:37) ressalta ainda que o turismo é, um processo de decisão elaborado e complexo, que envolve a decisão sobre o que visitar, onde, como é que preço e nesse processo decisório que inúmeros fatores são levados em consideração, como por exemplo, o destino a permanência, o transporte, alojamento, enriquecimento cultural, expansão de negócios, demonstrando que o turismo deve ser estudado em toda a sua complexidade envolvendo ciências afins para a compreensão deste fenômeno, propondo a criação de um Sistema de Turismo – SISTUR, que visa exatamente estabelecer um estudo multi e inter disciplinar sobre o turismo.

5 – TURISMO SEXUAL

Antes de explanar conceitos sobre o Turismo Sexual, é importante destacar que este fenômeno não pode ser tratado como um novo segmento do Turismo. e sim um conjunto de problemas sociais que são estabelecidos nas localidades receptoras de turistas, fruto da falta de planejamento turístico e resultado de uma série de armadilhas que foram plantadas ao longo da história, DO BEM (2005:100).

De acordo com DO BEM (2005:19) a existência do Turismo sexual “reflete, de fato, a preexistência de problemas bem mais profundos, os quais, por sua vez, estão ancorados no coração das sociedades receptoras de turistas.”

Entre as escassas definições e conceitos que abordam esta problemática, menciona-se a abordagem da ONG CHAME7 sediada em Salvador que cita o turismo sexual como:

Sair de férias, conhecer outros lugares e, se possível, encontrar um príncipe encantado ou uma Cinderela para compartilhar momentos de lazer e de aventura é fantasia que povoa os sonhos de muita gente. O turismo sexual se alimenta desses sonhos. Mas só fica caracterizado como tal quando ocorre o deslocamento de pessoas, de ambos os sexos, para outras cidades, estados, países ou continentes, exclusivamente em busca de aventuras eróticas.

Do BEM (2005:99) traz uma definição holística do turismo sexual, abrangendo em sua análise fatores que estão presentes na própria estrutura social o qual os indivíduos estão inseridos.

O turismo sexual é um fenômeno produzido por uma série de engrenagens subterrâneas disseminadas nas sociedades emissoras e receptoras de turistas, que, para se configurar, precisam operar simultaneamente, produzindo efeitos e desarranjos em ambos os contextos.

Segundo KOTTER (1995:195) apud DO BEM (2005:59), normalmente associa – se o turismo sexual a elaboração de discursos de meios de comunicação de massa, que na Europa, por exemplo, criaram representações estereotipadas de países subdesenvolvidos e minorias étnicas que são manipuladas, vistas e concebidas como objetos, cuja imagem está sempre associada a criminalidade, ilegalidade, ilegibilidade e problemas sociais, que passam a ser tratados pela mídia internacional como oportunidade de negócios.

[…] o terceiro mundo continua a ser representado como lugar exótico, da aventura, do divertimento e do repouso para o norte. A miséria do povo torna-se um bom material para thrillers, e as catástrofes acabem sendo utilizadas com material mais barato do que o necessário para produzirem filmes de terror em caros estúdios.

O turista que compra esse tipo de pacote normalmente, em seu local de origem, fazem parte de uma camada social mais baixa e que muitas vezes possuem sub-empregos, e passam anos pagando um pacote turístico, esses consumidores passam a alimentar uma cadeia criminosa que envolve a pratica de pedofilia, exploração de mulheres para fins comerciais, prostituição infantil, juvenil e adulta, racismo, sexicismo, entre outros crimes.

O grupo de consumidores do turismo sexual, são apresentados por proletariados culturalmente desqualificados e semi analfabetos […] corpulentos e barrigudos […]. (DO BEM (2005:60)

A evolução desta problemática do Turismo Sexual é a resultante da realidade fomentada pela: Construção histórica, Desigualdades sociais, Inexistência de representações sociais capaz de lutar contra esse fenômeno, representações políticas deficitária, falta de planejamento turístico, inexistência de legislação especifica e a deturpação midiática da imagem da mulher, juntos, esses fatores passam a alimentar uma rede criminosa que fomentam o Turismo Sexual, que por sua vez alimenta essa rede, criando um processo continuo e virtuoso, como segue no quadro abaixo:

Estupro

Abuso Sexual

Prostituição infantil

Assédio Sexual

Exploração Sexual Profissional

Turismo Sexual

Pedofilia

O relatório do PESTRAF (2002:65) afirma que esta rede criminosa mantém relações com o mercado do crime organizado internacional, fato comprovado pela detecção, no País, de redes mafiosas (Yakusa, Máfias Russa e Chinesa) que atuam no tráfico internacional de mulheres.

As máfias internacionais: a Russa, a Chinesa, a Japonesa, a Italiana, a Israelita, a Espanhola, a Mexicana… utilizam-se dos “pacotes turísticos” e da Internet, para a venda de meninas, e contam com a conivência de alguns elementos das Polícias Civil e Militar, das agências de modelos, de Comissários de Menores e de funcionários de aeroporto.

6 – Considerações finais

A proposta do tema deste estudo não busca definir conceitos, ou estabelecer, condutas a serem seguidas pelos meios de comunicação, pois para isso existem organismos legitimados pela sociedade o qual possuem essas atribuições, por enquanto, procura-se mostrar ao leitor a existência de fenômenos e de uma rede exploratória, que alimenta a mídia, que por sua vez alimenta um público dirigido, que estimulam a prática do turismo sexual, mantendo um ciclo, que intervêem no processo de formação social.

No entanto, entender o turismo sexual é uma tarefa muito complexa, onde demanda pesquisas e a formação de um núcleo multidisciplinar onde possa levantar e avaliar cada fator que alimenta esse fenômeno, que atualmente é transnacional, e que é alimentado sobre tudo pelas condições sociais impostas pela sociedade de consumo globalizado, fomentando uma série de crimes e violações.

Menciona-se o esquecimento por parte de alguns profissionais, que as Relações Públicas, como defende SIMÕES, é uma ciência que busca através de técnicas especificas compreender, prever e controlar a ação humana. Porém sua legitimação só será possível através da busca pela sua fundamentação, ou seja, o reconhecimento de que as Relações Públicas é um processo inacabado, e que deve estar em constante aperfeiçoamento.

Para isso é fundamental que seja difundido entre os estudantes e profissionais a amplitude das esferas de atuação, mostrando que temas complexos e fundamentais para a sociedade devem ser debatidos e questionados por uma rede multidisciplinar, ainda que a temática seja omitida ou anulada em debates.

Busca-se com esse estudo fortalecer o compromisso profissional firmado com as Relações Públicas e principalmente ao assumir um papel de grande importância na sociedade, propondo inicialmente uma análise social em relação ao gerenciamento da imagem institucional do Brasil no exterior e a necessidade da criação de canais de comunicação entre: Governos, Federal, Estadual, Municipal, Universidades, Terceiro setor e Profissionais de comunicação, para desenvolver pesquisas e ações de cunho operacional com total engajamento da sociedade civil e seus representantes em relação ao cumprimento dos direitos humanos cobrando dos poderes constituídos o respeito a dignidade humana, a vida ao desenvolvimento social e intelectual, que são soberanos e constitucionais. Esse engajamento norteia a mudança nos padrões sociais atuais que se sustentam sobre estruturas autoritárias, desiguais, patriarcalistas que estão impregnados em nossas instituições.

Sabe-se que essa rede criminosa que alimenta o turismo sexual, é sustentada por uma “elite criminosa” com forte poder, econômico e político que envolve hotéis, motéis, policiais, comerciantes, turistas e usuários. E que os fatos apenas são apurados quando ocorridos, tornando o processo de a investigação e punição dos culpados, longo e ineficaz. Não que a denúncia seja um fato desprezível, muito pelo contrário, ela ajuda a traçar as rotas do turismo sexual, fechando o cerco contra os criminosos.

Torna-se fundamental investir na prevenção no sentido de, envolver a sociedade e os poderes constituídos no processo de desenvolvimento social estabelecendo parcerias com: famílias, igrejas, sindicatos, organizações patronais, organizações não governamentais e mídia no intuito de estimular o fortalecimento das estruturas sociais e conseqüente reconhecimento dos valores éticos de nossa sociedade.

REFERÊNCIAS:

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DO BEM, Arim Soares . A dialética do Turismo Sexual. Campinas/P, Papirus, 2005.

BENI, Mário Carlos.Anãlise estrutural do turismo. São Paulo/SP,1997. p 01- 035

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Acesso em 13 de Janeiro de 2007.

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http://www.guayaquilcaliente.com/GC-Chicas-Carnavalderio.htm.

Acesso em 13 de janeiro de 2007.

1* Universidade Federal de Alagoas – Graduado em Comunicação Social, habilitação em Relações Públicas, Centro Federel de Educação tecnológica de Alagoas – Técnico em Turismo

 KOTLER (1984) afirma que estereótipo “é uma imagem largamente mantida e completamente deturpada sobre algo, levando o indivíduo a tomar uma atitude favorável ou desfavorável em relação ao objeto.”

2 Ilha de Vera Cruz – Primeira denominação do Brasil, no ano de 1500, ano do descobrimento recebendo as seguintes denominações posteriormente: Terra Nova (1501), Terra dos Papagaios (1501), Terra de Vera Cruz (1503), Terra de Santa Cruz (1503), Terra de Santa Cruz do Brasil (1505), Terra do Brasil (1505) e Brasil ( a partir de 1517)

3 BUFFA, Giovanni. Rio. Lê mete eccitanti d’inverno. [Rio metas excitantes de inverno]. Tutto Turismo, Milão: Ed. Domus, nov. 1981, ano V n.11. apud BIGNANI (2002:113)

4 Sandro Malossini: Livro de Bahia ao Rio Barroco, Bikini, Futebol, e Mar Azul apud …….

5 Site: clarence.supereva.com/contents/partire/speciali/000125rio

6 EMBRATUR – Instituto Brasileiro de Turismo. Foi criada no Rio de Janeiro em 18 de novembro de 1966. O seu principal objetivo é fomentar a atividade turística, criando condições para a geração de emprego, renda e desenvolvimento em todo o País.

7 Centro Humanitário de Apoio a Mulher

Fonte: Desenvolvido pelo Autor deste estudo

Prostituição

Exploração Sexual Comercial

Tráfico de seres

Humanos

Rede de crimes que alimentam o turismo sexual. QUADRO– 1

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